quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Governo dos EUA autoriza tratamento experimental com células-tronco embrionárias para tentar reverter a doença de Stargardt

Por: Paloma Oliveto

O mal leva à perda de visão e afeta principalmente crianças e adolescentes

As células-tronco embrionárias são a esperança de cura para um mal responsável pela perda progressiva da visão ainda na infância, e para o qual não existe tratamento. Ontem, a agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), autorizou um estudo clínico em pacientes que sofrem da chamada doença de Stargardt, uma das formas de cegueira juvenil mais frequentes do mundo. Nos EUA, estima-se que 25 mil pessoas, principalmente entre os 7 e os 20 anos, sofram com o problema. Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia indicam que, no país, há cerca de 18 mil portadores da doença, na faixa etária dos 10 aos 14 anos.

Essa será a segunda vez que o governo americano autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias em humanos. Em outubro passado, a Geron Corporation iniciou os testes para o tratamento experimental em pessoas que sofrem de lesão na medula espinhal. Agora, a licença foi dada à Advanced Cell Technology (ACT), empresa de Massachusetts. Doze pacientes com mais de 18 anos vão participar do estudo, que testará a segurança e a tolerância das células-tronco embrionárias transplantadas em pacientes com doença de Stargardt avançada. Eles receberão um implante sub-retinal das estruturas.



O oftalmologista Mário Pacini, do Hospital Pacini, explica que a doença de Stargardt é uma anomalia genética, provocada pela alteração de um único gene. “Ela se manifesta de diversas formas e destrói as células do epitélio pigmentário da retina, que são a base metabólica da retina”, diz. As células do epitélio fazem a recepção da luz nos olhos e são imprescindíveis para a visão. “A doença atinge a pessoa cedo, na infância e na adolescência. Não há tratamento, pois não se consegue reverter essa perda”, afirma Pacini. O distúrbio ataca a visão central, usada para tarefas como ler e reconhecer faces. Alguns pacientes ficam totalmente cegos e perdem inclusive a visão periférica, enquanto outros conseguem enxergar, mas têm a acuidade visual seriamente comprometida e só conseguem perceber a luz ou alguns movimentos.

A expectativa dos cientistas da ACT é recuperar as células do epitélio pigmentário da retina a partir das células-tronco embrionárias, que podem se transformar em qualquer tipo de estrutura. Como algumas experiências com esse tipo de célula acarretaram na formação de tumores, os pesquisadores precisam, mesmo antes da eficácia, verificar se o transplante é seguro. Segundo Robert Lanza, diretor científico da empresa, nos estudos laboratoriais, a terapia foi bem-sucedida.

“Em modelos animais com doença de Stargardt, conseguimos 100% de melhoria na performance visual sem qualquer efeito adverso. Nossa pesquisa mostrou que as células-tronco foram capazes de recuperar os fotorreceptores em animais que, de outra maneira, ficariam cegos. Uma função visual quase normal foi alcançada em ratos com a doença”, disse ao Correio. “Esperamos ver benefícios similares em pacientes com diversos tipos de degeneração macular.” De acordo com Lanza, até conseguir a aprovação da FDA, foram sete anos de pesquisa. “Com ratos, tivemos um resultado fenomenal. Se conseguirmos, em humanos, apenas uma fração desse benefício, já será um bom começo”, acredita.

Vultos

Aos 34 anos, Dolores Affonso tem apenas 2,5% da visão de uma pessoa saudável. Ela conta que a doença se manifestou quando tinha 9 anos, mas o diagnóstico só veio aos 16. “Minha família era muito pobre, então não tínhamos o hábito de ir ao médico. Comecei a perder a visão e ter dificuldades no colégio, mas achava que era miopia, porque na minha casa todo mundo usava óculos”, conta. “Quando fiz 16 anos, eu me consultei e tive o diagnóstico. Somos seis irmãos, sendo que três de nós temos Stargardt”, relata. A mãe de Dolores também sofre do mal, identificado já na idade adulta.

Dolores conta que, na adolescência, os exames acusaram que ela estava no nível de acuidade visual 10 por 200, o que significa que ela tinha 5% da visão de um olho normal. A doença evoluiu, mas de forma lenta, e se estabilizou depois dos 30 anos. Hoje, ela diz que enxerga vultos e consegue identificar cores de longe. Já a mãe dela, aos 58 anos, enxerga melhor e é capaz de ler números e placas. “Mesmo assim, vivo minha vida normalmente”, faz questão de destacar Dolores, que é dona de uma empresa de consultoria no Rio de Janeiro.

Para ela, a grande esperança para os portadores do mal são as terapias com células-tronco. “Acho que é o futuro mais promissor. A Universidade de São Paulo tem um trabalho com células-tronco adultas para retinose pigmentar e está obtendo bons resultados. Então, para Stargardt, também poderá ter efeitos”, diz. O oftalmologista Pacini também acredita no potencial das terapias com células-tronco para tratar de problemas relacionados à visão. “Cada vez mais a ciência está evoluindo nesse sentido”, lembra.

“Iniciar um estudo clínico para o tratamento da degeneração macular representa um marco significativo no progresso do desenvolvimento de terapias baseadas em células-tronco embrionárias”, disse o presidente da ACT, William M. Caldwell, em uma nota distribuída à imprensa. “Acredito que gerações vão olhar para trás e ver esse momento como um dos mais excitantes da história da medicina. Com o começo desse teste, e também com o que a Geron iniciou em outubro, o campo da medicina regenerativa mostra-se preparado para mostrar o verdadeiro potencial das células-tronco embrionárias, o que fará uma diferença significativa na vida de milhões de pessoas em todo o mundo.”


Passo crítico

“O teste clínico da Advanced Cell Technology é um passo crítico para o desenvolvimento de terapias à base de células-tronco para doenças da retina. Essas células oferecem um potencial enorme para salvar e restituir a visão, e estamos muito contentes em saber que essa pesquisa terá como foco a doença de Stargardt, uma condição que rouba a visão de crianças e jovens adultos, e para a qual ainda não há tratamento ou cura. Em longo prazo, as células-tronco vão oferecer um significativo potencial para devolver a visão às pessoas com as mais avançadas doenças da retina.”

Stephen Rose, oftalmologista da ONG Foundation Fighting

Blindness, que financia pesquisas de células-tronco para o tratamento de doenças visuais

FONTE: Correio Braziliense

5 comentários:

  1. Olá, blogueiro (a),
    Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível.
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    Atenciosamente,
    Ministério da Saúde
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  2. bom dia, moro na franca e recentemente minha esposa foi ao oftalmo. e descobriu a doenca ela tem 28 anos, por favor qualquer novidade que tenhao sobre a cura ou tratamento da doenca me enviem um email por favor

    obrigado

    meu email e jct_thomaz@hotmail.com

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  3. Olá Luiz Henrique,

    Fiquei muito feliz em vê-lo por aqui. Lembro que me contatou por e-mail sobre sua esposa, não foi?

    Fique tranquilo que avisaremos sobre qualquer novidade que encontrarmos. Só peço que se cadastre no blog para que receba estas notícias automaticamente quando forem postadas, desta forma fica mais fácil se manter informado.
    Cadastre-se na nossa comunidade no orkut e mantenha contato com outros portadores e familiares, conheça outras realidades e histórias de vida.

    abraços e seja bem-vindo!

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  4. meu marido tem retinose piguimentar desde os 22 anos hoje ele tem 47 anos e gostaria muito de que ele podesse fazer parte dos testes para cura ele tem condiçoês se preciso for viajar para fora do pais como posso escrever ele na lista de pacientes?

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  5. Olá Cligia,
    Que bom recebê-la aqui no Blog Stargardt Brasil. Primeiramente, cadastre-se aqui no blog, pois estou sempre pesquisando as fundações, institutos, universidades e demais locais onde realizam estudos no Brasil e no exterior para trazer informações atualizadas para os amigos do blog. No momento não encontrei nenhuma pesqisa recrutando pacientes, porém, cão ache alguma postarei aqui no blog.
    De qualquer forma, cadastre seu esposo nas fundações internacionais, no Retina Internacional, no Retina SP que se tiver alguma coisa, eles avisam.
    Eu estou tentando contato com alguns centros de pesquisa no Brasil para ver se posso formar uma lista de espera de possíveis pacientes que estejam dispostos a passar por testes nestes estudos. Assim que tiver uma resposta, aviso a todos aqui no blog.
    Se quiser me contactar por e-mail ou MSN, fique à vontade! Será um prazer trocar idéias com você.
    Seja bem vinda!
    abraços

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